sábado, 1 de maio de 2010

1º DE MAIO: UM ENGODO?

Criado por um Congresso Socialista em Paris no ano de 1889, o 1º de maio homenageia aqueles que sofreram repressões em função de reivindicações para melhorar as condições de trabalho dos operários americanos da cidade de Chicago três anos antes. No Brasil, nesse mesmo ano, era implantada a República, regime político que vai substituir a Monarquia que dependia do trabalho escravo para existir. Desde o século XVI, o Brasil se utilizou do trabalho escravo de milhares de pessoas para manter sua economia e estrutura socioadministrativa funcionando. Falar em direitos trabalhistas no Brasil republicano era uma prática condenável aos olhos das autoridades brasileiras. Um país que surgiu com a força da escravidão não tinha como admitir direitos aos trabalhadores. Com a chegada dos imigrantes italianos no Brasil no final do século XIX, o socialismo de tendência anarquista será difundido entre a recente classe operária brasileira. É ele que vai organizar os trabalhadores em sindicatos e também as primeiras greves no país. A partir da década de 20, do século passado, desembarca no Brasil, as idéias socialistas baseadas no marxismo através do Partido Comunista do Brasil. É através dessa organização política que as reivindicações trabalhistas serão organizadas em busca das transformações no mundo do trabalho e da concretização dos direitos dos trabalhadores brasileiros. É uma luta descomunal que levou muitos trabalhadores à morte e ao ostracismo social e econômico. Muitas lideranças sindicais são ameaçadas, torturadas por agentes do próprio Estado e assassinadas a mando da classe patronal brasileira.
A década de 30, do século XX, assistirá grandes mudanças no cenário políticoeconômico nacional e internacional. A crise de 1929 abrirá as chagas do sistema capitalista mostrando as suas contradições e sua vulnerabilidade diante da classe trabalhadora como afirmara Karl Marx. Essa fragilidade do sistema deixou a classe burguesa mundial em pânico porque poderia enfim, levar a classe operária a tomar o poder político e instaurar a tão sonhada Ditadura do Proletariado como ocorrera com a Rússia em 1917. Apoiar os Regimes Totalitários seria a solução encontrada pelo capitalismo para deter o avanço do socialismo no mundo, principalmente na Europa através do Nazifascismo. No epicentro da crise de 29, os Estados Unidos, foram adotadas uma série de medidas econômicas e sociais para conter a influência do socialismo entre os milhares de trabalhadores desempregados que foram afetados pela crise econômica. No Brasil chegava ao poder, Getúlio Vargas, através de um golpe militar e civil, que também se utilizará de medidas paternalistas que visavam conter a classe trabalhadora rumo ao poder. Getúlio implementará uma série de mudanças no mundo do trabalho como criação da Carteira de Trabalho ou Profissional, salário das mulheres iguais aos dos homens, direitos à licença maternidade (um mês antes e um mês depois do parto), Ministério do Trabalho, Justiça do Trabalho, salário mínimo (criado em 1º de maio de 1940) e em 1943 promulgou a Consolidação das Leis Trabalhistas em vigor até hoje no nosso país.
O salário mínimo, quando foi criado por Getúlio Vargas, tinha o objetivo de cobrir as despesas mensais dos trabalhadores com alimentação (55%), habitação (20%), higiene (10%), vestuário (8%) e transporte (7%). A Constituição de 1988 define que o salário mínimo deve atender as necessidades do trabalhador e sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência. Como o salário mínimo cobre essas despesas, ninguém sabe! Há 70 anos que o Estado brasileiro diz que vai melhorar o valor do salário mínimo, mas até agora nada. São 70 anos de mentiras que fazem com que a classe que mantém o país, os trabalhadores, venha sofrendo prejuízos financeiros que a deixa entre a fome e a miséria. Os governantes se mostram incompetentes e inoperantes diante dessa realidade. Como não conseguem resolver esse abacaxi, procuram contornar a situação através de programas assistencialistas como o Bolsa Família, Seguro Desemprego, Chapeu de Palha e de eventos festivos, principalmente no Dia dos Trabalhadores, onde são sorteados, casas, carros, apartamentos, motos, bicicletas, regados a “bandas” e muita cachaça, velha tática dos Césares. Os governantes chegaram à conclusão que é mais fácil e mais barato banalizar e ridicularizar o trabalhador do que lhes dá seus direitos garantidos na Constituição do nosso país.
Por outro lado, os trabalhadores não estão sendo bem assessorados pelos seus órgãos representativos como deveriam. Há falhas estruturais e políticas dentro dos sindicatos que fazem com que eles não atendam as reivindicações da classe trabalhadora. Em função disso, perdem a cada dia, a credibilidade dos seus associados. Não há uma formação política para os sindicalizados, chegando ao ponto de seus membros não conhecerem os seus direitos trabalhistas. A falta de formação e informação dos sindicatos em relação aos seus associados faz com que a luta dos trabalhadores por melhores condições trabalhistas e reconhecimento financeiro se tornem apenas um sonho. Além disso, muitos sindicatos estão comprometidos com governos através de acordos escusos servindo, apenas, como órgãos para conter o avanço da classe trabalhadora. Vemos, hoje, sindicatos e sindicalistas apoiando pessoas e governantes que são contrários à classe trabalhadora, juntos, no mesmo palanque. Nesse ecumenismo político, quem sai perdendo é o trabalhador porque não tem mais a quem recorrer. Quando oposição e situação estão no mesmo palanque, o trabalhador passa a exercer o papel de títere dentro da sociedade. Os sindicatos precisam encontrar seu o caminho verdadeiro e único: levar os trabalhadores ao poder. Tudo que estiver fora desse objetivo é engodo e retrocesso na luta dos trabalhadores por dignidade e melhores condições de vida.
A incompetência dos governantes e dos sindicatos, a falta de educação associados a aparelhos ideológicos como a religião e a mídia são responsáveis pela imobilidade, pelo descaso, falta de perspectiva, união, conscientização dos trabalhadores brasileiros. Uma nação que impede o crescimento material e político dos trabalhadores jamais conhecerá a dignidade e a harmonia social.

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