sábado, 29 de janeiro de 2011

VOLTA ÀS AULAS:O QUE ESPERAR?

Para muitos colegas professores, a voltas às aulas é um verdadeiro pesadelo diante da realidade que cerca a escola. Nos grandes centros urbanos, o professor perdeu a condição de professor para ser "o judas", ou seja, foi transformado num instrumento de xingamento e espancamento. Essa realidade, em alguns aspectos, nós já vivenciamos e/ou presenciamos em algum momento dentro da escola. Não há mecanismos para deter essa escalada de violência que o professor vem sofrendo nos últimos anos no Brasil. Essas agressões, na maioria das vezes, ficam impunes porque o infrator é considerado menor de idade. E o pior não é isso. O pior é o sistema educacional não querer perder esse aluno que comete agressões fisicas contra o professor por questões financeiras porque se ele, o aluno, deixar a escola, os recursos destinados a educação, no ano subsenquente, serão diminuídos. "Não podemos perder dinheiro", dizem os gestores públicos. Outro argumento bastante utilizado pelos gestores é que o Conselho Tutelar, Ministério Público intervém de forma contudente a favor das crianças e adolescentes que praticam atos de violência contra o professor.Então, o importante não é a qualidade da educação, a disciplina, o respeito ao professor, mas o montante(em dinheiro) que o aluno representa. Isso significa que o sistema educacional brasileiro é desfavorável para aqueles que o constroem. Em termos de leis que procurem inibir possíveis agressões em relação ao professor e demais profissionais de educação, o Brasil e suas autoridades são coniventes com a escalada da violência dentro da escola. O que é preciso acontecer para essa realidade mudar? Quantos professore(a)s precisarão ser espancado(a)s, assassinado(a)s, ameaçado(a) para as "autoridades" começarem a fazer algo em defesa desses profissionais? O Estado brasileiro prefere se preocupar com "bullyng" entre os alunos a atacar a violência contra os professores.
Por que isso vem acontecendo nos últimos anos no Brasil? Os especialistas em educação e até políticos já deram centenas de respostas sobre o tema. De Piaget a Paulo Freire, passando por Emilia Ferreiro, Edgar Morin, Jaques Delors, Celestin Freinet, Howard Gardner, Lev Vygotsky. Muitos desses doutores já se debruçaram sobre o tema trazendo centenas de explicações( complexas) e que, no Brasil, nunca foram colocados em prática. Entre os intelectuais brasileiros existem nas prateleiras das bibliotecas das universidades milhares de teses de mestrados e doutorados sobre o assunto, mas que na verdade não contribuem em nada no dia a dia das escolas públicas brasileiras porque o que é produzido nessas universidades , na sua maioria, não é repassado para o aperfeiçoamento da sociedade. ´São conhecimentos produzidos para poucos com dinheiro de todos.
Além desse entrave social, existe ainda a falta de estrutura que vem destruindo ainda mais a escola pública brasileira. Há alguns anos, o Brasil resolveu colocar todas as crianças e adolescentes na escola. É uma decisão inteligente para um país que quer despontar como uma potência no século XXI, mas esqueceram de preparar o caminho para que isso seja realizado. Educar pessoas não é só colocá-las numa sala de aula e pronto! Educar pessoas é muito mais que isso. É prepará-las para guiar o país rumo ao topo da liderança mundial.É dividir conhecimentos. Para isso acontecer é necessário que a educação seja a bússula que guiará a nação para essa realidade. Mas o Brasil e seus dirigentes(a maioria) veem a educação como meio de se enriquecerem através de desvios de verbas públicas destinadas para a educação. São verdadeiras quadrilhas administrando esses recursos e quando são pegos são coroados com a impunidade pelas mesmas autoridades que fazem vistas grossas para a realidade dos professores brasileiros.
Outro fator que desqualifica a educação brasileira é a quantidade de alunos por sala de aula. Chega ao absurdo de 60 a 70 alunos em uma única sala. É claro que esse tipo de educação não dá certo. Tratar seres humanos como caranguejo de feira (um engangado no outro), só no Brasil. Mas para os governantes, isso não é nada de mais. O importante é tê-los em sala de aula. Agora, nenhum desses gestores colocam seus filhos nessas escolas que eles administram. Essas escolas são boas para os filhos dos outros, mas para os deles eles não servem.
Nessa bagunça toda está o professor que pouco é ouvido e quando emite sua opinão não é levada em consideração. Professor só é bom quando concorda com tudo e quando serve de bucha de canhão em tempos de política, fazendo campanha( de graça), fazer número em comícios, vestir camisas de candidatos pelas ruas, gritar, leventar bandeiras, enfim, servir de puxa-saco de candidatos e políticos viciados no poder. Pra nada mais o professor é interessante. Os gestores não querem saber se os professores estão trabalhado de forma adequada, com segurança, com assistência a saúde, moradia, salários compatíveis com a profissão e em dia, assistência pedagógico-didática, psicológica. A conversa que se tem(em muitos casos) com o professorado é através de seus assessores e de forma ameaçadora, principalmente em relação" às faltas" porque o importante é tê-los em sala de aula de qualquer jeito e ponto final. Caso contrário, será tratado como um péssimo professor, um irresponsável, um mau exemplo para os outros.
Já é sabido que essas distorções que existem na educação brasileira são antigas e mais antigas são as irresponsabilidades dos nossos governantes em relação a educação e aos educadores. Não se pode ter um olhar unilateral, privilegiando um lado em detrimento do outro. Educação é sínônimo de conjunto e para atingir a tão desejada qualidade na educação pública, os gestores precisam aprender a conhecer, aprender a fazer,aprender a conviver com os outros e aprender a ser digno, verdadeiro, inteligente, honesto e justo. Só assim alcançaremos o sonho de transformar o Brasil numa grande nação que será um espelho para mundo.

Um comentário:

  1. Oi, Valter!

    Li seu texto aqui na praia. Pegou pesado, não foi? Mas a reflexão é boa. Uma análise da realidade das escolas braileiras...Mas lembre-se que nenhum sistema quer que o professor não ensine...lembre-se ainda que os professores, na maioria das vezes, estão saindo das faculdades despreparados para ensinar. Isso também influencia, tem reflexo no contexto. Adoro ler os seus textos. Você é porreta, viu!

    Mudando o assunto...
    Este ano não serei mais coordenadora do ginásio. Serei,mas em outro lugar. Adorei trabalhar com você. Obrigada por tudo! Valeu a pena a experiência...

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